Sentada à beira rio, vejo o meu rosto reflectido em espelho. É prata brilhante e espelha um sorriso de mágoas recuperadas. Percorreram vales e montanhas, ultrapassaram tempestades e trovões, atingiram abismos em lugares inimagináveis até chegarem ao ponto de partida; o princípio dos princípios. Trabalho árduo é percorrer por estes caminhos, descobrir como encontrar a saída em labirintos perfeitamente desenhados de formas geométricas, aparados por simulações e desilusões que pretendem tornar-se amigáveis, que fazem de tudo para se alojar em território alheio e enfraquecido pela dor. Assim mesmo é suposto ser. É este o passo que consubstancia o crescimento. Interiormente fortes e indomáveis, deixamos por outro lado, uma janela aberta para o mais pequeno raio de luz. O nosso mundo fica mais puro ao designarmos a intensidade da claridade que invade o nosso território. Desejamos que cometam loucuras, que atravessem oceanos ou percorram por destinos cruzados porém de que vale a pena lutar contra ti? Tu estás sempre aí, imóvel, aparentemente sereno, de jeito teimoso e a querer vincar sempre que mais um dia passa, cada vez que mais uma hora passou e não deixou lugar a possível repetição. Contribuis para o desenrolar de vidas, para o ultrapassar de caminhadas, e ainda assim consegues ser companhia que revolta os mais impacientes. Mas nada fará com que desapareças no tempo. Tu és o tempo que determina a idade, o momento, e a consequência. Somos inseparáveis. E da próxima vez que te cruzares comigo nas minhas contendas, vou deixar que deslizes pelo momento com a serenidade que a natureza me oferece todos os dias, e quando o primeiro minuto passar, olharei para o rio e a imagem espelhada será exactamente aquela que recebi no meu primeiro acordar.
Marta Mendes
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