segunda-feira, 31 de março de 2008

A mar

Não se coaduna com simples ideais imaginários, acredito até ao fim que este enorme sentimento coloca cada alma em estados de pouca lucidez, e isto porque existe e existiu sempre uma dominante carência de valores. Uma vez sobre a sua alçada a nossa consciência proclama Felicidade e acima de tudo Paz. Atingir este auge da natureza está mais perto do que pensamos, bastando apenas (!) uma atenção cognitiva e sensorial de espírito. Fácil de entendimento mas bastante mais díficil de obtenção. Nas pequenas coisas da vida, nos pequenos pormenores circundantes das nossas rotinas, num simples gesto de caridade ou numa atitude de compreensão para com o próximo estás. Vendo bem, ele está inerente a uma tranquilidade de espírito determinante em jornadas espirituais, passando pela Fé, que para uns é sinónimo de caminhadas a Fátima e que para outros integra deuses, como seria Neptuno. Existindo esta que move as nossas almas podemos notar o melhor e o mais bonito dos fenómenos que só alguns ainda conseguiram presenciar. Através de uma janela aberta ela pode ser vista, pensem e interiorizem a facilidade com que se levanta os pés da Terra e se viaja até sítio mais longínquo, somos automáticamente transportados para uma outra realidade, desejando ficar do outro lado. E até chegar o dia em que ele nos encontra colocamos todas as nossas inseguranças, porque será que desejamos sempre aquilo que não podemos ter, porque será que sofremos com aquilo que desejamos e não precisamos? Estas acompanhar-nos-ão até ao momento tão esperado. Em paralelo estás tu, senão és mesmo tu que que iluminas todos os dias a minha sombra. É em ti que a minha aventura começa, é em ti que esta tem as margens que merece, que me colocam em silêncio profundo. Por dentro fico a sorrir, talvez pouco afirme, fico junta contigo até ao fim dos tempos, quer chegue o tão esperado momento, quer eu o encontre antes de tu te aproximares. Eu não sei nada, sabe o tempo e naturalmente responderá a todos os porquês. Não vou desistir nunca de pensar em ti, podes decidir correr mas não me podes fugir!
Marta Mendes

domingo, 30 de março de 2008

Sonhei


Um passeio sentimental irremovível deixou dentro de mim uma lembrança. Subjacente ficaram desejos perdidos numa atmosfera envolvente, sustentavelmente soldados acompanhando divagações intempestivas. Enlouquecia-me o arrebatamento íntimo associado. Não procurei, não forçei, encontrei. Fincadamente de olhos postos em êxtase agarrei-te em palavras e gestos, genuínamente apropriados desrespeitando barreiras e vivências. A voz ecoava confiança incrédula de um ser governante e poderoso que erguia as partículas silenciosas da chuva. Saíste devagar depois dela, depois da chuva de estrelas. Vi tudo o que fazias, apesar de te esconderes, senti que empurravas vontade. Permitia uma aproximação que quebrasse o feitiço querido por muitos ignorantes da Terra, não fosse eu capaz de num só movimento ou atenção desenhada sobre a paisagem, dizer-te algo que não soubesses. O que não sou capaz de dizer dizendo-me, num lugar vazio e perdido no espaço, aguarda um breve estremecimento de alguém olhando atrás de ti. A ignorância de uma coisa que não sabes e sabes que não sabes, aguarda uma palavra que basta dizer ou não dizer, abrindo caminho entre o ser e a possibilidade. Em silêncio oiço eu uma voz familiar num sítio cheio de gente que só tu ouves dentro de ti, presumo que sejas tu comunicando para mim a verdadeira aparição do teu sorrir. Exibo leviandade contigo ao encontrar-te ouvindo o som do mar, depois quando acordo e volto da minha terrível mentira do sono, vejo de novo o sol nascer lá fora.

Marta Mendes

terça-feira, 25 de março de 2008

Apresenta-te

Essa tua palma sobre a minha mão que tem que eu leia? Estou metida em confusão pela tua presença mas convicta de que és tu o coração que respondeu à minha chamada. Longe e presente, avançando e recuando, fizeste-te notar. Dentro deste panorama sei onde te procurar mas não como te alcançar. Os contos de princípes e princesas descrevo e transporto a esta era. Lá no alto do firmamento, de mão estendida, de braços abertos, o teu corpo recebe-me com as graças dos deuses que reinam lá nos céus. São estas constatações místicas que na sua percepção poderão encaminhar a tua existência pois não mais posso eu decifrar daquilo que cá na terra eu desconheço e não descodifico. Faltas-me tu. Revolta-te um pouco. Agita estes mares; humildemente a imensidão dos oceanos espera-te. Confesso-me às constelações estrelares desde a manhã em que o mar copiou cem vezes o verbo amar. Rejubilo porque isoladamente antevejo as tuas acções e declarações, e de novo tudo é possível. As gargalhadas imensas provocam o bem-estar acautelado de uma história comum. Que bem conheço eu a espera, a princípio é cadeira de balanço, seguidamente é copo de gelo com gin e limão numa casa de canção, e no fim de estar adormecida pela dor, caio numa cama ao acaso. Castigos desmedidos foram repetidos em tempos e repentinamente esquecidos do outro lado da ponte. Sem rancores. Não deixes que tenha mais uma noite sem lua.

terça-feira, 18 de março de 2008

Estrela Branca

Noutro dia enquanto levantava o cortinado notei a claridade que trespassava no rio da cidade, o brilho que trazia a cor do mesmo, a transparência que transmitia a tranquilidade inerente a uma luz branca, idêntica a uma estrela no céu. Quando falamos em autenticidade a maior parte das vezes assumimos a ideia de que a nós não nos pertence, que isso é coisa de fundamentalistas ou budistas, contudo a ideia que deixo presente assenta num ideal tão genuíno
e tão próximo que nem se sente presença. Dentro de cada um, no interior do mais ínfimo pormenor, ela guia-te.
Ao percorrer as ruas da cidade encontro as melodias que encantam a existência subliminar da vida, estás ao virar de cada esquina, mesmo que olhe ao oposto consigo destacar-te de entre tudo, comunicando-te silenciosamente. Fazes-me sentir livre. Não existe nada que nos separe ou destrua. Esta sim é a união perfeita, não ostenta orgulho, não ostenta ingratidão, é sinceramente singela. Viajo assim contigo para todo o lado, como uma nuvem de terra para terra.
Marta Mendes

segunda-feira, 10 de março de 2008

Juntas

Guardamos os maiores dos segredos porém não são secretos. A essência de cada um suspira uma alegria incontornável como se tivesse todas as cores do arco-íris, uns mais coloridos que outros, no entanto são os mais sombreados que seguram os nossos momentos. Aquela hora mais tensa ou aquele fim de tarde interminável trouxeram todas as vivências premiadas apostas nas nossas portas. São memórias que mantêm a força presente todos os dias porque não basta vizualizá-las; peremptória afirmação é conhecer a sensação. É doce, terna e eterna... conquista o coração dando-lhe algo mais que silêncio ou doçura, não fica imóvel, nem ausente pois se nada tem para dar, dá-te tudo aquilo que falta. Prometo que guardo no meu segredo os nossos segredos até ao dia em que o sol abandonar o céu. Rendendo-me às evidências, resta-me brindar-Vos como dita a regra: "Um brinde a Nós, porque Nós estamos cá sempre... o resto... vai e vem!".

quinta-feira, 6 de março de 2008

Luminoso

Tentaria descrever-te, a ti, a ele, e até mesmo á primeira das sensações, já que foi fria, também quente e agora nem lugar destacado se arranja. Fizeste-me perder o equilíbrio por diversas vezes, tantas foram que ainda eu naquela tarde solarenga te perguntava como te poderia reconquistar. Lembraste? Relembro com saudade as tuas primeiras incursões, o teu primeiro toque que aliado ao teu sabor salgado trazia sensações, imagens e sentimentos que nunca antes foi permitido sequer sonhar. Ao certo descreveria como único... e tu sabes, tu sentiste, tu confirmaste por igual. Agora ficam as memórias, e censurando episódios procuro destino para ti, e para ele. Não me liberto porque sei que estás comigo, dentro de mim eu sinto-te, e nos dias que a tua ausência causa ânsia de espírito livre, olho-me e vejo-te nos meus olhos; estás a sorrir, como sempre. A tua imagem rude nada tem de grosseira, controversa natureza aparentemente céptica ou incerta, somente sugere delicadeza; numa cor serias azul.

Marta Mendes