domingo, 30 de março de 2008

Sonhei


Um passeio sentimental irremovível deixou dentro de mim uma lembrança. Subjacente ficaram desejos perdidos numa atmosfera envolvente, sustentavelmente soldados acompanhando divagações intempestivas. Enlouquecia-me o arrebatamento íntimo associado. Não procurei, não forçei, encontrei. Fincadamente de olhos postos em êxtase agarrei-te em palavras e gestos, genuínamente apropriados desrespeitando barreiras e vivências. A voz ecoava confiança incrédula de um ser governante e poderoso que erguia as partículas silenciosas da chuva. Saíste devagar depois dela, depois da chuva de estrelas. Vi tudo o que fazias, apesar de te esconderes, senti que empurravas vontade. Permitia uma aproximação que quebrasse o feitiço querido por muitos ignorantes da Terra, não fosse eu capaz de num só movimento ou atenção desenhada sobre a paisagem, dizer-te algo que não soubesses. O que não sou capaz de dizer dizendo-me, num lugar vazio e perdido no espaço, aguarda um breve estremecimento de alguém olhando atrás de ti. A ignorância de uma coisa que não sabes e sabes que não sabes, aguarda uma palavra que basta dizer ou não dizer, abrindo caminho entre o ser e a possibilidade. Em silêncio oiço eu uma voz familiar num sítio cheio de gente que só tu ouves dentro de ti, presumo que sejas tu comunicando para mim a verdadeira aparição do teu sorrir. Exibo leviandade contigo ao encontrar-te ouvindo o som do mar, depois quando acordo e volto da minha terrível mentira do sono, vejo de novo o sol nascer lá fora.

Marta Mendes

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