segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Tu

Transpiras a água de um oceano perdido, distanciado da civilização, circundado por sereias e piratas que te tentam mas que não te atormentam. Vives acordado, não dormes pois entendes que assim te proteges dos monstros marinhos. Deixaste de viver uma vida desafogada para não desistires dela. Vendaste a visão cristalina do teu olhar. Decidiste perder-te pelo mar, decidiste largar-te em novelos de espuma e correntes marítimas. Agendaste tudo em sonhos, correste em vales suecos, em planícies alentejanas e perdeste-te agora por estes lados. A paisagem arde nos teus olhos, quem te vê sabe como se transformam. Uma viagem? - Como? Nunca partiste. Nunca regressaste. Nunca estiveste neste lugar. É tudo Novo. É um Começo. Uma nova vaga. Traçaste o mapa, eu defeni as rotas que contêm os desejos mais profundos. As marés acompanhar-nos-ão. A lua cheia permanecerá vigilante. Acorda. Eu caminhei sempre para ti, sobre o teu mar encrespado. Atravessei as correntes desenhadas pela tua ondulação. Servi-te como Rei, por ora Rainha quero de ti o mesmo que queres de mim. Mergulha comigo, agarra-me ao passar por debaixo dela, repete, como sempre. Liberta-te deles, despega-te dos piores, agarra-te aos melhores, define-te como de longe o maior. És assim mesmo. Grande! Achas-te abandonado, pareces-me acampanhado, mas estás perdido na ilha, de copo em cada mão mas não é bem isso que desejas para ti. Bebe devagar, cansa-te só um pouco, deixa-te cair na paz e esquece a melancolia. Cair na inútil queixa, é esqueceres o limite que outrora impuseste a ti próprio, e noutra hora mais discreta. Esta noite, á meia noite clara de lua cheia entras sem chave no meu coração e verás o corpo dourado que figura no teu leito.




by Marta Mendes

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