domingo, 8 de fevereiro de 2009

A primeira vez

Entrei. A Àgua estava fria, o corpo dizia que devia recuar, a mente pedia para avançar. O pé molhado, a mão gelada, a cabeça fria diziam: "Vai com calma". Segundos antes já questionava se seria assim para sempre, se serias assim para sempre. Questionava desde logo, desde antes de um ínicio começado se serias meu para sempre, e ainda só tinha posto um pé na àgua! Valeria a pena ter interrogado ainda antes de o ter experenciado? Não! Evidentemente que não. No momento que decidiste entrar, no momento que decidiste te desafiar, já sabias que tamanhas interrogações não te levariam ao paraíso. Porém existia uma Força, uma Energia, um Desafio, um Salvamento.... uma Cura que acalentava todas as dúvidas. A abertura de um livro, de uma vida, de uma história não merecia ser lida por quem quer que fosse. Foste escolhido. Tu decidiste e determinaste o desfecho da tua investida. Em conjunto com a força dupla de dois seres mais facilmente previas o resultado. Impaciência, Intolerância ou simplesmente desejo profundo de um sonho visto realizado, colocava o mundo a girar em torno dessa deliciosa alegria. Depois de ter entrado, já não poderia voltar atrás, apenas sair .... e voltar a entrar mais tarde.

Estou decidida.

Estou disposta.
Estou cautelosa.

Estou rendida...



By, Marta Mendes

4 comentários:

Joaninha disse...

É isso primoca linda! Decidida...Está fria.. Esta desagradável, mas de certeza que vai compensar! é como td na vida.. Estar no quentinho e ter de levantar para mais um dia de trabalho custa, mas depois, pensas, ainda bem que me levantei, o dia correu bem! ;) Beijinhossss Continuaaaa

Anónimo disse...

Era Setembro, marés vivas, uma ventania desenfreada.
O mar estava enorme e pouco ordenado. A ondulação rondava os dois metros e meio de frente e estava cavada. Todos aqueles que me tinham acompanhado nas surfadas matinais das 07h da manhã e nas surfadas tardias que duravam até ser noite, nesse dia, desafiaram todas as ciências imaginárias e mergulharam.
Eu estava no paredão, de olhos franzidos por causa do sol na cara, a levar empurrões do vento, a ouvir as histórias daqueles que saiam da água a conta a gotas e contavam aos amigos a onda que tinham apanhado, a prancha que se tinha partido e a sua queda.
Analisava a força da Mãe Natureza e catalogava como herói cada um que via a dropar a gigante onda castanha que rebentava com uma forma bruta.
Ninguém puxou por mim para eu entrar naquele mar. Sentia-os preocupados com o meu quase metro e meio de altura e pelos meus medíocres 50kg. Hoje o Abel não vai entrar, pensava cada um para si mas sem me dizerem nada.
Eles entraram todos. Fiquei sozinho no paredão. Numa mão tinha o saco com a prancha, na outra os barbatos.
Não aguentei. O Abel entrou… pensaram eles quando me avistaram inesperadamente a chegar ao out side.
Naquele dia levei com a sensação de adrenalina pura que o meu corpo alguma vez sentiu e levei com a sensação mais próxima da morte que alguma vez senti.
O set estava a chegar e eu remava para ir ter com ele. Aqueles que me conheciam, afastavam-se davam-me espaço na água e gritavam pelo meu nome em forma de incentivo. Bora Abel! É tua!!
No momento de dropar a onda, atrasei-me. Quando dei por mim, estava no cimo da onda a olhar para baixo, para um buraco que parecia não ter fim. Caí desamparado de uma altura de dois metros e meio. O impacto da queda na água tinha me tirado energias. Perdi logo a prancha e os barbatos. Ninguém me viu. Mal conseguia vir à superfície para respirar durante dois segundos. As chapadas que o mar me dava na cara e a corrente fortíssima faziam de mim o ser mais impotente no planeta terra. Parecia uma formiga a levar pisadas de elefantes.
Pensei que a minha vida e que os meus desafios iriam conhecer o seu ponto final parágrafo e era ali que ia ficar. Ao menos ficava numa praia que me deu muito.
Aquela onda poderia ter sido a onda da minha vida. Um tubo numa onda de dois metros e meio feito por um pirralho como eu... Hoje talvez tivesse uma estátua na Praia Nova.
Mas não foi esse o cenário. Ultrapassei barreiras físicas, rebentei-me a remar para o “outside” e apanhei o chamado susto da morte pelo facto de, talvez pela excitação, ter realizado mal uma manobra primordial no bodyboard. Fui salvo por um surfista que me viu por acaso.
Custou-me a entrar na água fria no dia a seguir? Muito. Mas o que é facto é que voltei sempre a entrar, de cabeça erguida e a agradecer aos deuses por ter passado o que passei.
Nunca mais voltei a atrasar-me no drop..
Para além disso, a vida é curta de mais para ter de ficar no paredão com a prancha na mão e com os barbatos na outra.
Beijinhos para minha sophia de mello breyner..eehehe*;)

Marta Mendes disse...

Pois é.... toda a gente sabe como foi a sua primeira vez e nunca mais a esquece!
Momentos como esses desejaveis e que por muitos anos ansiamos por uma outra primeira vez!
Aquela inocÊncia.... aquela ilusão!

Beijocas my Friend*
e boa sorte nas tuas oficiosas :)

Jorge disse...

Ei foste tu que escreves te isso? Isso é talento misturado com muito tempo a pensar na vida...