sexta-feira, 4 de abril de 2008

Anjo

Sigo na carruagem de head phones ouvindo o som que alenta o meu acordar, badaladas suaves contrastando com o rockear das multidões na constante luta de encontrões e empurrões. É certo que despertam os meus sentidos, do mesmo modo que ao segurar nas mãos a minha leitura de todas as manhãs de todas as semanas, dou de caras com semelhante facto. Acontece frequentemente ouvir não a música nos meus ouvidos mas o som dos céus a enlouquecer, delineando um mundo perfeito lá fora que levita o meu pensamento. Desapareço fisicamente e sei-o porque deixo de sentir os pés no chão. Construí desde muito cedo uma Casa de Sonhos, tem diversas portas, diversos compartimentos, um grande jardim verde, fresco, leve, rejuvenescedor e palpitante. Não tem castelos porque com os tempos desmonoraram-se, procure embora sempre modo de os reconstruir, sabendo de antemão que castelos nas nuvens não têm suporte. Restam-me as esperanças do outro lado da Casa, de frente para o infinito, ao lado de ti, que sustentas o areal, as rochas, as conchas, os búzios, ... a tua envolvência que se apega ao meu peito. O dia vai nascendo e uma vez mais deslizo contigo para o chão, persegues-me inevitavelmente na carruagem, de frente a mim, como te tornas tão absorvente. Amanhã fazes as malas e partes, ficando eu a arrumar as minhas mãos e as palavras atrapalhadas.Virás ao menos para uma palavra? Suspiro, não invento, suponho que invento, supõe que o início não começa, supõe que o princípio não limita. Novamente o tempo persegue, corre a coxear atrás de nós, o sinal toca levemente a realidade que persiste decalcada. Saio de cabeça erguida para uma outra, enfrento-te de peito erguido, a força está nas minhas entranhas, foste tu que a realçou ao confiares as tuas preces. Embaraçada fico deixando de lado o teu desamparo previsto e distinto. Não te receio, em ti descobri que para ser diferente de quem era bastou-me ver o teu rosto e mais que ver olhar... só te falta sentir por mais um pouco. Chegando ao destino que não desejei contudo encontrei, oponho-me frontalmente a estas perturbantes verdades desprovidas de exactidão, e não me toquem, não me falem, não me peçam para cantar, não me peçam nada. Eu permaneço estável e equilibrada, de passo frime e constante, encontro o meu caminho do meu lado e não está só, dubiamente disfarçado de ressentimento no interior, precede love. Memorizo-te, fui escolhida para te pensar.

Marta Mendes

1 comentário:

Anónimo disse...

"Anjo... leve movimento... olhar profundo... um sorriso intenso a mais..." Essa é a Marta que escreve coisas tão lindas que falam do amor maior... bjis Milton Batera